Procedimentos minimamente invasivos em répteis

Veterinária
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O mercado pet de répteis vem crescendo desde os anos 90. Hoje em dia, podemos encontrar as mais diferentes espécies do mundo sendo criadas e comercializadas. Existem grandes feiras realizadas em vários países, destinadas à venda desses animais, de produtos especializados para o setor e voltadas ao desenvolvimento de técnicas para melhoria do manejo e reprodução. No Brasil, esse mercado tem uma legislação restritiva, mas, mesmo assim, ele é crescente. Por outro lado, o tráfico e a perda do habitat natural ainda representam um grande risco para muitas dessas espécies.

Esses fatores estimulam o constante aprimoramento na medicina dos répteis. Por isso, a endoscopia e a videocirurgia vêm sendo de grande valia, colaborando com diagnósticos precisos e na resolução de doenças ou condições. Antes, com os meios convencionais, o processo era muito mais complexo, invasivo ou até mesmo impossível.

Aplicações da videoscopia nos répteis
Endoscopias digestivas: através de imagens e biópsias, possibilitam o diagnóstico de gastrite, úlceras, tumores, estenoses e até mesmo dos agentes causadores da doença. Animais que apresentem vômito, regurgitação e diarreia podem ser candidatos a esse exame. Dentre as doenças causadoras desses sintomas estão a clamidiose, cryptosporidiose, candidíase. Outra função importante da gastroscopia é a remoção de corpos estranhos que esses animais possam ter ingerido, mais comum em quelônios e lagartos.

Colposcopia: examina a cloaca e é possível ter acesso ao sistema urinário (uretra e bexiga), ao cólon e as papilas genitais. A videoscopia permite a inspeção dessas estruturas, a realização de biopsias e culturas, além de um auxílio importante na remoção dos ovos distócicos e na redução e correção de prolapsos de cloaca, cólon e oviduto.

Endoscopia do trato respiratório: envolve a glote, traqueia, brônquios e pulmões. Os répteis possuem pulmões saculares, o que permite um exame completo do órgão por via caudal, diferente de outros animais. Esse recurso possibilita a identificação e o tratamento local de doenças como aspergilose e mycoplasmose que por seu aspecto granulomatoso, são de difícil diagnóstico e tratamento pela medicina convencional. Existem parasitas respiratórios nos répteis que podem também ser diagnosticados por vídeo, dentre eles os do gênero Pentastomida Pentastomídeo. Parasitas primitivos que ficam alojados no pulmão podem ficar bem grandes e acometer humanos e outros animais. O tratamento de pentastomose com medicações pode ser difícil e é indicado a remoção dos vermes adultos dos pulmões, o que deve ser feito através de videoscopia.

Os répteis não possuem diafragma, portanto apresentam apenas uma cavidade chamada celomática. A celioscopia facilita o acesso a praticamente todos os órgãos internos. Além de uma visualização clara de cada órgão, o exame também nos concede a coleta de amostras para biópsia e realizar um diagnóstico definitivo. Muitas vezes, exames bioquímicos de sangue podem não refletir a real condição de órgãos como fígado e rins que, quando alterados, não revelam a causa e nem o tipo da mudança.

Cirurgias minimamente invasivas
A determinação do sexo de quase todos os répteis pode ser uma tarefa muito difícil, pois na grande maioria não existe nenhuma diferença visível entre machos e fêmeas. Não há disponível um teste de sexagem por DNA como existe para as aves; já o exame ultrassonográfico pode ajudar, mas apenas em animais adultos. Uma excelente alternativa para resolver essa questão é através da videoscopia, onde é possível identificar os testículos nos machos e o ovário nas fêmeas. A sexagem pode ser de grande ajuda na preservação de espécies e no manejo reprodutivo em cativeiro, permitindo selecionar futuras matrizes e casais logo após seu nascimento. Muitos répteis têm seu sexo determinado conforme a temperatura de incubação dos ovos. Dessa forma, alterações climáticas como o aquecimento global podem pôr em risco espécies inteiras. Esse exame possibilita um acompanhamento preciso da proporção de nascimentos de machos e fêmeas até mesmo em vida livre.

Cirurgias minimamente invasivas também podem ser realizadas na cavidade celomática. Ovariohisterectomia, enteropexia e enterotomia são algumas das indicações. Nas cirurgias de cavidade celomática de quelônios o acesso convencional é feito através de uma janela aberta no plastrão (osteotomia), um procedimento muito traumático e de lenta recuperação. Com o auxílio da videoscopia é possível realizar um acesso através da fossa femoral, evitando a abertura do “casco”. Além das óbvias vantagens de procedimentos minimamente invasivos, contamos também com a amplificação da imagem que nos permite precisão mesmo quando lidamos com um filhote de lagarto ou tartaruga de poucas gramas.

Procedimentos minimamente invasivos têm mostrado grade auxílio na medicina de répteis e outros pets não convencionais. A escolha do equipamento correto para cada procedimento faz toda a diferença no resultado.

Fernando C. Figliolini é médico veterinário
E-mail: fernandovetsil@gmail.com

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